Terça-feira, Março 25, 2008

À vida, porque viver non necesse.

...the lines drawn on your hand...


Hoje estendi meu feriado para ir ao aniversário do meu primo de um ano. O primeiro aniversário. Primeiro de toda uma vida. Para mim ainda é estranho, quatro anos depois de o Ennzo nascer, ainda é estranho ter primos tão pequenos.

Mamãe não entende a estranheza porque para ela a vida foi uma grande constante. Não para mim. Passei tempo demais sem notar que as pessoas mudavam. Passei tempo demais sem me dar conta. Mas agora vejo claramente; agora o véu se afasta e o tempo me encara nos olhos, sem sorrir, mas também sem rosnar. Agora é a hora de nascer de novo; agora é hora de crescer. Tenho agora consciência, como nunca tive, das gerações. Agora uma nova geração de crianças nasce e cresce, e elas criam suas personalidades, e riem e choram, e aprendem, e em breve Ennzo e Bruno se tornarão rapazes, e terão suas brigas de irmãos, suas disputas, suas alianças. Eles crescerão e aprenderão aquilo que aprendemos, e outras coisas além. Eles terão melhores amigos e namoradas. Eles irão ao cinema e aprenderão a beber. Agora eu entendo, como não podia entender quando me apresentaram aquele bebê gordinho, três anos atrás. Alice aprenderá a engatinhar e balbuciará o que poderão ser palavras. Ela se apoiará nas coisas e nas pessoas para ficar de pé, e ficará feliz quando conseguir. Talvez essa seja a metáfora da vida do Homem. Nós nos apoiaremos nas coisas e nos outros para ficarmos de pé, e só estaremos felizes quando conseguirmos imitá-los.

Mas não é só isso. Minha irmã também crescerá, sairá de casa, se casará. Ela terá filhos que também aprenderão a andar, e seus filhos serão tão diferentes uns dos outros quanto nós somos diferentes; quanto Mamãe é diferente de seus irmãos; quanto Vovó é diferente de suas irmãs. Os velhos morrerão, talvez, e os jovens sofrerão (porque jovens sempre sofrem), e os adultos lutarão para serem o que sempre foram. E novas crianças nascerão, e suas risadas nos farão sorrir aquele sorriso exagerado, e as histórias delas serão contadas anos depois... Agora eu entendo.
Entendo que presente se criará através do passado, que se tornará dor e delícia nas nossas presentes lembranças. O grande sonho de criar uma família de muitas gerações, em que a história de antes precede a história de hoje, e todas são uma só e todas são importantes, se realizará. Será possível então lembrar daquilo que foi antes. Tudo aquilo que dói agora, também, se tornará parte da história. O mundo, pitoresco e completo, se realizará.


É esse o sentimento.

The journey, it mirrors... the journey, it mirrors...

É esse o sentimento!

...the lines drawn on your hand...